sábado, 13 de novembro de 2010

PIRRA - As Cidades Invisíveis (As Cidades e o Nome) - Italo Calvino

Por  longo  tempo,  Pirra  foi  para  mim  uma  cidade  encastelada  nas
encostas  de  um  golfo,  com  amplas  janelas  e  torres,  fechada  como  uma  taça,
com uma praça em seu centro profunda como um poço e com um poço em seu
centro.  Nunca  a  tinha  visto.  Era  uma  das  tantas  cidades  que  nunca  visitara,
que  imaginava  somente  a partir  do  nome: Eufrásia,  Odila, Margara,  Getúlia.
Pirra era uma delas, diferente de todas as outras, assim como cada uma delas
era inconfundível para os olhos da minha mente.
Chegou o dia em que as minhas viagens me conduziram a Pirra. Logo
que  coloquei  os  pés  na  cidade,  tudo  o  que  imaginava  foi  esquecido;  Pirra
tornara-se aquilo que é Pirra; e imaginei que sempre soubera que a cidade não
tinha vista para o mar, escondido atrás de uma duna baixa e ondulada; que as
suas  ruas  correm em  linha  reta;  que  as  casas  são reagrupadas  em  intervalos,
não  altas,  e  são  separadas  por  descampados  de  depósitos  de  madeira  e
serrarias;  que  o  vento  move  os  cata-ventos  das  bombas  hidráulicas.  Daquele
momento  em  diante,  o  nome  Pirra  evoca  essa  vista,  essa  luz,  esse  zumbido,
esse ar no qual paira uma poeira amarelada: é evidente que significa isto e que
não podia significar mais nada.
A minha  mente continua a conter  um  grande  número  de  cidades que
não  vi  e  não  verei,  nomes  que  trazem  consigo  uma  figura  ou  fragmento  ou
ofuscação  de  figura  imaginada:  Getúlia,  Odila,  Eufrásia,  Margara.  A  cidade
sobre o golfo também está sempre  lá, com a praça fechada em torno do poço,
mas não posso mais chamá-la com um nome, nem recordar como pude dar-lhe

um nome que significa algo totalmente diferente.

Pirra na imaginação do viajante:









Pirra visitada pelo viajante :







por: Amanda Coutinho, Elaine Machado, Eliane Machado e Pedro Negreiros.


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